quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONJUNTURA ATUAL




 
Durante os últimos meses, muito se tem dito ou argüido sobre as ocorrências, razões e soluções sobre os movimentos econômicos que abalaram o cotidiano das nações, pessoas e suas economias
Nesta linha as mais diversas abordagens têm sido referenciadas, desde as mais corriqueiras como a simples concessão de empréstimos bancários, até as hoje execradas alavancagens derivadas.
Nesse sentido, acredita a São Carlos Consultoria e Participações Ltda. pertinente apresentar algumas considerações, fruto das observações, estudos e compilações do farto material recentemente produzido sobre o assunto, principalmente tendo em vista o agravamento do ambiente sócio econômico, mercê da recente crise mundial, mais evidente a partir da quebra do banco Lehman Brothers.
 
RETROSPECTIVA
1964 - 1982
A partir do final dos anos 60, mas principalmente após a última metade dos anos 70, com o início da queda do "Império" Soviético, passou o mundo a experimentar uma crescente onda de progresso.
Embora diferenciados nos modelos de gestão econômica, operados por países desenvolvidos e emergentes, principalmente por estes últimos atuarem com uma centralização política/administrativa em que o estado-empresário dominava as diretrizes da economia, os fundamentos econômicos liberais capitalistas determinaram os métodos de forma bem objetiva na organização das operações e no fluxo de capitais.
Essas ações, principalmente subordinadas à abundância de excedentes financeiros, originados nos petrodólares da pós-crise de 1973, geraram verdadeiros "boons" na economia dos mercados ditos emergentes, incluído a América Latina. Esses fluxos eram obtidos sob as mais diversas formas, desde empréstimos do setor financeiro privado internacional, de recursos diretamente originados de financiamentos de países desenvolvidos, como também das agencias de desenvolvimento multilateral.
O Brasil manteve-se nesta linha de atuação de forma reticente à redução da atividade econômica, uma realidade adquirida pelo mundo ocidental desenvolvido, que a partir do primeiro choque do petróleo, havia optado por uma adequação ao realismo monetário não inflacionário.
Essa atuação brasileira, como dita, encontrava abundância na disponibilidade de financiamentos externos ao setor público, motor que o governo necessitava para manter as taxas de crescimento do PIB em níveis espetaculares, jamais ocorridos em qualquer época da história (multiplicou por três o PIB entre 1968 e 1980 e dívida externa de 8 para 40 bilhões de USD).
A par desta abundância de créditos procurou o governo dotar a política econômica de objetivos concretos de controle de gastos correntes priorizando exclusivamente investimentos.
As combinações de fatores políticos internos, com econômicos externos, na década de 80, deixaram o país totalmente despreparado para enfrentar a realidade internacional à qual os países ocidentais desenvolvidos já vinham se ajustando há algum tempo.
Já em 1982, o Brasil se encontra pela primeira vez com uma grande crise da dívida externa nos assolando da mesma forma que a quase todos os países da América Latina, com processos de moratórias, duras e prolongadas negociações com a banca privada internacional, Clube de Paris, agencias multilaterais, FMI etc.
No âmbito interno, as Entidades de Previdência Privada em processo de regulamentação e adequação estrutural, mantiveram de forma contínua e crescente, um virtuoso apoio ao setor privado através de subscrições de ações e debêntures, foco da resolução CMN 460 e ainda uma base ao financiamento público pela aquisição de ORTN'S.
Estas operações talvez tenham sido, junto com crescente re-estruturação da BOVESPA e BMF, que há época se re-inventavam, o início embrionário do processo de dinamização do Mercado de Capitais nacional, legado pela Lei 6.404/76.

1983 - 1993
Soma-se a esse momento critico o processo de democratização, com o retorno de políticas populistas de duvidosas concessões e com graves conseqüências nos equilíbrios fiscais, às imposições determinantes, rígidas e duras da política monetária do FMI de adequação a realidade econômica e a desconfiança do mercado financeiro internacional.
Neste pacote conjuntural o risco país vai às alturas constrangendo toda e qualquer operação financeira internacional, inclusive para o setor privado, os bancos passam a ser pressionados por seus acionistas, na mesma linha o FED passa exigir rigoroso provisionamento para devedores duvidosos o que inviabiliza os créditos ao setor público.
As poucas operações que ocorrem são com o setor privado e resultado do concurso de garantias externas ao país pela ocorrência de créditos de livre conversibilidade de moedas. Nesta mesma fase o BACEN impõe sérias restrições à repatriação de dividendos o que afugenta de vez o investimento privado externo.
Por paradoxo, no entanto, permanecem inalteradas as linhas de financiamentos de comércio exterior e interbancárias o que possibilitou a manutenção do comércio exterior.
A angústia dos novos governos pós 85, em continuar com a capacidade de investir em infra-estrutura pública e ao mesmo tempo financiar o incrível incremento do déficit público originado do constante aumento de despesas correntes, passa a encontrar nos bancos indescritível criatividade na busca de recursos.
Nessas soluções encontradas, como que sacando de um grande "cheque especial" as contas econômica, social e política seriam empurradas mais uma vez.
Assim de meados dos anos 80 e 90 se vivencia um permissivo financiamento da atividade econômica através do aumento descontrolado do déficit público e operações "criativas" da divida interna e externa.
A inapetência política para o controle do déficit público e a entronização pela Constituição de 1988 do conjunto dos sistemas, fiscal, previdenciário e social, caoticamente estruturados na correspondência de obrigações e deveres, somados a uma série de compromissos estatais sem base econômica real, gerou como conseqüência a hiperinflação.

1994 - 2002
A implementação do Plano Real através dos procedimentos de ancoragem cambial, monetária e fiscal priorizou como meta o combate a inflação.
Nessa linha de atuação, a austeridade e firmeza das políticas de governo promoveram um severo e continuo impacto de contenção aos investimentos públicos, já que as despesas correntes de custeio dos programas previdenciários e sociais são praticamente incontingenciáveis por direitos gerados pela Constituição e praticamente imutáveis na disposição do nível de responsabilidade política vigente.
Esse quase impossível limite de contenção só foi suavizado pelo ingresso de capitais estrangeiros atraídos pelos programas de privatizações e concessões de serviços públicos e empresas estatais e pela rentabilidade das taxas de juros e apreciação cambial movidas pelas firmes atitudes do BACEM.
Nessa atitude os investidores estrangeiros foram acompanhados pelos institucionais, notadamente os fundos de pensão, que tiveram suas estruturas razoavelmente preservadas, apesar de algumas interferências, durante o período anterior, mercê de uma estruturação sólida nos fundamentos de sua constituição a partir da lei 6435.
Nesses movimentos destacaram-se como os de maiores atrativos e perspectivas de crescimento determinados setores muito específicos como, extrativo mineral, energia, metalurgia, telecomunicações e serviços bancários.
Nesse clima de inseguranças, principalmente as geradas por épocas passadas e altas taxas de juros, os investidores tendem a optar por maior liquidez, representados por ativos do mercado financeiro (circulante).
Por outro lado o elevado custo representado pelas consecutivas alavancagens de recursos de terceiros, tem como conseqüência a resistência do setor privado em investir em novos equipamentos, instalações etc. (permanente)
Nessa fase e de novo com episódio das crises asiática e russa, da mesma forma que nas latino americanas de 1980, as instituições internacionais, governos e bancos centrais intervieram salvando os bancos. Foi o início da fase de desregulamentação e eliminação de restrições que datavam da era da Depressão, dando início ao processo de liberalização, negociado pelos bancos centrais sob o acordo de Basiléia II, pelos quais os bancos comerciais foram autorizados a classificar suas próprias exposições de risco.
Desde o ajustamento do Plano Real em 1994 o Brasil voltou gradativamente a operar no mercado financeiro internacional, o Plano Brady iniciou o processo através da emissão de bônus endossáveis, pulverizados pelo mercado de investimentos, listados em Bolsa e comercializados no mercado secundário de títulos (BONDS).
Essas colocações multiplicavam o número de credores evitando qualquer movimento combinado dando maior transparência ao valor das emissões.
A manutenção dos fundamentos econômicos nestes últimos 15 anos de vigência do Plano Real, sem praticamente nenhuma mudança, a adoção do câmbio flutuante, O REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO e a lei de responsabilidade fiscal, elementos que só reforçaram as qualidades da política econômica Brasileira, mantiveram aberto e de forma crescente o mercado financeiro internacional ao país, apesar das turbulências mencionadas.
Somam-se a estas atitudes, entre outras, o saneamento do sistema financeiro pelo PROER e PROES, a novações do Sistema Financeiro de Habitação e BNH, a consolidação do endividamento dos estados e municípios e o rígido controle do superávit primário.
Esta atitude Brasileira se engaja perfeitamente no movimento de liberalização global onde os fatos mais marcantes são; a consolidação da zona do Euro, a reordenação econômica da China, o desmantelamento do socialismo Soviético.

2003 – 2009
O governo atual iniciou seu período com uma crise de confiança ligada à sua própria natureza política e discursos de campanha. Sua ação um verdadeiro anticlímax se deu através de, como diz Armínio Fraga, "partindo uma notável dose de pragmatismo: manteve o tripé da responsabilidade fiscal, metas para a inflação e câmbio flutuante. Esta resposta trouxe resultados rápidos, que foram reforçados por uma fase de extraordinário crescimento global".( "Como Reagir a Crise" do www.iepecdg.com)
No entanto de forma sistemática, a causar apreensão, se iniciou um aumento vertiginoso dos gastos públicos correntes, com a criação de uma série de benefícios sociais de prestação continuada (bolsas etc.) aumento de valores reais dos salários dos servidores públicos, bem como do número efetivo destes, contribuições e auxílios a entidades e dos custos de manutenção dos organismos estatais, inclusive publicidade.
O Brasil se beneficiou de um grande aumento nos preços dos seus principais produtos exportado, de abundante liquidez internacional e de um crescente fluxo de capitais. Por exemplo, o índice CRB de preços de commodities subiu cerca de 100% do final de 2003 ao final de junho de 2008! Este ambiente permitiu uma valorização considerável da taxa de câmbio, que contra o dólar caiu pela metade neste mesmo período. As gestões do Banco Central e do Tesouro permitiram também acumular cerca de USD 200 bilhões de reservas e desdolarizar a dívida pública, notáveis elementos de resistência a choques externos como os atuais.
Esse engajamento gradativo nos últimos 15 anos, na economia global gerou uma dependência interna para o financiamento da atividade econômica corrente dos recursos oriundos do exterior.
Na verdade o que ocorre é que a poupança interna Brasileira é praticamente toda transferida do setor privado ao setor público, para o custeio dos déficits, praticamente não existindo saldos a serem destinados ao financiamento dos investimentos privados e mesmo aos públicos, tais quais os de infra-estrutura, como estradas, pontes, portos, ferrovias, saúde e saneamento entre tantas.
Mesmo os fundos de pensão, ainda hoje o maior grupo de investidores, não detêm praticamente nenhum saldo a ser destinado ao financiamento de investimentos de capital privado, este aspecto só tenderia a melhorar se atentarmos para as recomendações do ex-ministro Pedro Malan "... respeito à eficácia das políticas de competição, regulação e supervisão do sistema financeiro, dos fundos de pensão, do mercado segurador e da concorrência em geral. O nome do jogo aqui – e aonde queremos chegar – é eficiência na regulação e não excesso de regulação" ( "Como Reagir a Crise" do www.iepecdg.com)

 
A Crise

 
A credibilidade adquirida pelo que se pode chamar de "marcha constante no caminho certo" entronizada pelo plano real, seguida pelo programa de privatizações etc. GEROU UMA INÉDITA ABERTURA DA ECONOMIA ao capital globalizado e pavimentou o terreno para a importação pelo mercado brasileiro da bolha especulativa, acompanhada de todos os seus mecanismos exóticos.
Acrescenta-se a este como escreve Edmar Bacha no livro "Como Reagir a Crise" do www.iepecdg.com
:" até recentemente, o ritmo de crescimento da demanda interna e o descompasso das políticas monetária e fiscal eram tais que prenunciavam uma séria crise de balanço de pagamentos mais à frente.
O crescimento da demanda interna de bens e serviços a uma taxa muito superior à de sua oferta tinha como resultado uma progressiva redução do saldo da balança comercial, porque reduzia o excedente exportável e aumentava o apetite pelas importações. Essa deterioração do balanço comercial era apenas mitigada por um "boom" dos preços das commodities exportadas pelo país.
Recentemente, as exportações vinham crescendo apenas por causa desse efeito preço, já que a quantidade de bens exportados estava tendendo a estagnar-se.
A resposta de política econômica para esse excessivo crescimento da demanda interna vinha sendo uma política monetária cada vez mais apertada. A política fiscal não exercia qualquer papel anti-cíclico. Ao contrário, reforçava a expansão da demanda do setor privado. Uma conseqüência dessa combinação de políticas (moeda apertada e gastos em expansão) era apoiar a tendência à apreciação do Real que provinha da melhoria dos preços em dólares das exportações. Pois juros reais elevados induziam tanto à entrada de capitais especulativos estrangeiros como à expansão de operações locais com derivativos cambiais – ambas destinadas a aproveitar (ou mitigar) a diferença entre juros domésticos e externos – num processo que alimentava a tendência à apreciação cambial.
Essa trajetória da economia somente se sustentava por causa do "boom" das commodities e da abundante liquidez internacional, que geravam oferta de dólares mais do que suficiente para financiar o balanço de pagamentos – de fato permitindo uma significativa acumulação de reservas internacionais pelo país"
Aqui não se pretende esgotar o assunto, até porque no livro do www.iepecdg.com que se referencia de forma indiscutível aborda com excepcional abrangência a questão.
Na verdade o que se verifica é um conjunto escasso de opções, pois o que se constata do quadro atual é que deve piorar, apenas se discute é quanto.
O Brasil, no entanto tem uma rara oportunidade de desenvolver posturas políticas que por certo se adotadas, ao final o país sairia com ganhos consideráveis deste episódio.

Retratos da Crise
  • SU$12 trilhões total de dívidas hipotecárias nos Estados Unidos.
  • O estoque financeiro mundial – o total de depósitos bancários, títulos de dívida privada, dívidas governamentais e participações acionárias— passou de US$10 trilhões em 1980, próximo do valor do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, para US$200 trilhões em 2008, quase quatro vezes o PIB mundial.
  • As reservas de divisas dos governos passaram de US$910 bilhões em 1990 para US$ 5 trilhões em 2006.
  • Os ativos internacionais dos bancos subiram de US$6 trilhões em 1990 para US$40 trilhões em 2008.
  • O volume diário dos negócios nos mercados internacionais de divisas cresceu de $200 bilhões na década de 1980 para $3,9 trilhões no mês de julho. Esses negócios incluem o chamado "carry trade", em que investidores tomam empréstimos em mercados com juros baixos, como Japão e Suíça, e depois aplicam esse dinheiro em países de juros altos, como o Brasil e a Turquia. Em 2007, cerca de $1 trilhão foi emprestado no Japão, onde os juros ficaram perto de zero desde o começo da década de 1990.
  • O aumento da escala das atividades financeiras, aliado à queda dos custos das transações, atuou como o vento que empurrou o barco adiante em uma poderosa onda de crescimento econômico, criação de novas riquezas, disseminação de novas tecnologias, melhora dos níveis de vida, expansão do comércio, integração da economia mundial e consolidação de valores de justiça social.
  • O PIB per capita mundial cresceu mais nos últimos cinco anos que em qualquer qüinqüênio já registrado.
  • No Brasil, Patrícia Mota Guedes e Nilson Vieira Oliveira, realizaram pesquisa de campo na periferia de São Paulo sobre a "Democratização do Consumo" (Braudel Papers No. 39/2006), que constatou:
    • Nos últimos dez anos, as famílias brasileiras de baixa renda passaram a consumir cada vez mais bens e serviços antes exclusivos das classes médias e altas. Geladeiras duplex, telefones celulares, carros, passagens aéreas e pacotes turísticos, cartões de crédito e produtos de marca já não são mais sonhos impossíveis para as famílias pobres.
  • Nos últimos dois anos, mais de 20 milhões de brasileiros ascenderam dos degraus mais baixos da escala econômica – as classes D e E, no jargão do marketing — para ingressarem na classe C, que hoje abrange 86 milhões de pessoas com renda familiar média de US$600, formando o maior segmento da população brasileira e o que cresce mais rapidamente.
  • O consumo tomou o lugar das exportações como principal motor do crescimento econômico do Brasil.
  • O consumo crescente vem navegando num mar de crédito fácil, que faz parte da proliferação mundial de ativos financeiros. Desde 1999, os empréstimos pessoais concedidos por bancos se multiplicaram por nove, passando de R$40 bilhões (US$22 bilhões) para R$357 bilhões (US$224 bilhões).
  • Os cartões de crédito passaram de 119 milhões em 2000 para 466 milhões em 2008, chegando à média de mais de três cartões para cada um dos 140 milhões de adultos brasileiros. As pessoas usam cartões de crédito para comprar alimentos e remédios, sendo metade dessas compras pagas em prestações. Em um mercado que movimenta US$150 bilhões por ano e cresceu 17% no ano.
  • A inadimplência vem subindo para 7% sobre empréstimos pessoais e 13% sobre bens de consumo duráveis. Pode aumentar ainda mais à medida que a recessão vai forçando as famílias de baixa renda a optar entre satisfazer suas necessidades básicas e saldar suas dívidas.
  • As pessoas pobres medem o tamanho de suas prestações comparado a sua renda mensal, ignorando que, quando as prestações tiverem sido saldadas, terão pagado duas ou três vezes o preço à vista dos bens. O economista Eduardo Giannetti argumenta que esse tipo de crédito ao consumidor "é uma prática abusiva que tira vantagem da incapacidade de pessoas de baixa escolaridade de compreender realidades mais complexas".
  • Em relação ao PIB, a dívida privada no Brasil é baixa (40%) comparada à da zona do euro (116%), dos Estados Unidos (201%) e do Japão (419%) – mas a dívida pública é (60%) maior que a americana (40%).
  • O aumento dos ativos financeiros em proporção ao PIB espalhou-se para muitos países. Em 1990, apenas 33 países possuíam ativos financeiros que superavam seus PIBs. Em 2006 esse número mais que dobrara, chegando a 72 países. Os ativos no Brasil se multiplicaram por sete desde que sua economia se estabilizou, em 1995, chegando a 257% do PIB.
  • Os fluxos de capital dos países exportadores de petróleo quadruplicaram, de US$108 bilhões em 2002 para US$484 bilhões em 2006. A US$100 por barril, seus ativos internacionais eram projetados pelo MGI para crescer de US$4,6 trilhões em 2007 para até US$12,2 trilhões em 2013. Os governos e pessoas ricas dos países exportadores de petróleo são pressionados a enviar seu dinheiro ao exterior pela escassez de oportunidades em seus mercados domésticos.
  • Com a queda dos preços, voltando a padrões históricos, estes recursos desaparecem.
  • A intensificação da atividade financeira provocou o superaquecimento da economia mundial. Agravando as diversas limitações de capacidade de prestação de serviços e suprimento de bens, que foram se multiplicando nos últimos anos. A demanda crescente e os investimentos insuficientes em infra-estrutura levaram a episódios cada vez mais freqüentes de falta de eletricidade e de congestionamentos em portos, aeroportos e nas ruas das cidades, como evidentemente se observa.
  • Entre 2001 e 2007 aproximadamente US$3 trilhões em riqueza foram transferidos dos consumidores de petróleo para os produtores e que essa transferência está se acelerando, chegando hoje ao valor anual de US$1,8 trilhão, ou 3% do PIB mundial.
  • A situação financeira atual são uma reencenação, em escala muito maior, da crise asiática de uma década atrás, que também envolveu ativos financeiros inflados, mas em locais diferentes.
    • As recomendações foram:
    • Fortalecer os sistemas financeiros nacionais, passar das taxas de câmbio fixas para flutuantes, para que os países pudessem melhor absorver os choques econômicos e melhorar a governança das empresas.
  • Com os superávits conquistados com a rápida expansão do comércio mundial nos últimos dez anos, os países em desenvolvimento até agora vinham sofrendo menos crises financeiras. Suas reservas oficiais hoje chegam a várias vezes mais que a capacidade de empréstimo do FMI, tanto que vários deles se tornaram credores líquidos.
  • O Brasil se tornou uma nação credora pela primeira vez no início deste ano, quando sua reserva de divisas (US$200 bilhões) superou sua dívida externa (US$198 bilhões)
  • Não havia pressão para mudanças – não em Washington, que estava gastando dinheiro e mantendo os impostos em nível baixo, não em Wall Street, que estava nadando em dinheiro, e não entre os consumidores, com indivíduos desfrutando de crédito fácil e os preços dos imóveis residenciais em alta.
  • Joseph Schumpeter definiu o capitalismo como "a forma de economia de propriedade privada em que as inovações são realizadas por meio de dinheiro emprestado que, de modo geral, embora não por necessidade lógica, implica na geração de crédito"
  • Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, diz que muitos ciclos anteriores de crescimento acelerado seguido por queda abrupta "foram movidos por inovações tecnológicas – quer fossem a ferrovia ou a Internet — e podem gerar bolhas, fraudes e eventuais perdas. Mas também são movidos pela inovação real.
    • A inovação, neste caso, foi financeira. Passamos de um sistema em que os bancos guardavam ativos para outro em que os bancos originam ativos e então os 'securitizam' e distribuem."
  • Desde 1993, os valores vendidos em securitizações subiram de US$1 trilhão para US$12 trilhões. A securitização é feita em grande escala e os ativos deixam de serem confiáveis, então os problemas multiplicam-se rapidamente
  • O superboom chegou ao clímax enquanto os ativos financeiros nos Estados Unidos, com 56% do total mundial, cresceram de cerca de 450% do PIB em 1980 para 1.000% em 2007
  • Entre 1993 e 2006, o passivo financeiro das famílias americanas subiu de 89% para 139% da receita pessoal disponível. As pessoas tomavam segundas hipotecas sobre suas casas e também contraíam empréstimos, dando o valor de suas casas como garantia, acreditando que a valorização dos imóveis residenciais continuaria por tempo indeterminado. Os saques contra o valor de suas propriedades chegaram a quase US$1 trilhão em 2006, ou seja, 8% do PIB, um valor superior ao déficit de conta corrente dos EUA. Agora a inadimplência sobre empréstimos imobiliários residenciais, dívida de cartões de crédito, financiamentos de construtoras e de automóveis está subindo.
  • A maioria das crises bancárias internacionais começou nos grandes centros financeiros, como Londres em 1825-26, Áustria/Alemanha em 1873 e Wall Street em 1929 e 2007. Algumas porém estouraram em economias emergentes, como a Argentina na crise do Baring, em 1891, e a crise asiática de 1997-98.
  • A posição líquida de investimentos dos EUA tornou-se negativa em 1986, tendo a balança negativa crescido rapidamente desde 1999, passando de US$800 bilhões naquele ano para US$2,4 trilhões em 2007, o país tornou-se devedor internacional. Os títulos do Tesouro americano em mãos estrangeiras vêm aumentando em 10% ao ano, dos quais a metade em mãos do Japão e da China. Os déficits acumulados de conta corrente sobre comércio em bens e serviços somam US$5 trilhões desde 1999, um terço do PIB de 2007.

     
    A tarefa hoje é combater as distorções financeiras de modo a prevenir outras desordens e consolidar o progresso conquistado nas décadas recentes.

     
    (A maioria dos dados precedentes tem como fonte: Braudel Papers; BACEN)

     
    Alguns Comentários finais em desacordo com que se tem apregoado recentemente:

     
    • A China já entrou em um período de recessão. A dúvida que se tem é em função da extensão e forma de seu tratamento político e econômico, depende destas atitudes se teremos, uma maior, ou menor extensão da recessão mundial.
    • A extensão do déficit americano é hoje em torno de 10%, por tradição e compromissos de campanha os democratas devem aumentá-lo, podendo chegar a mais 5% e terá como conseqüência uma desvalorização do dólar.
    • O Brasil não possui nenhum instrumento ágil e efetivo de poupança interna que possa manter sustentado o fluxo de investimentos, o financiamento do consumo e os déficits. Depende do mercado internacional.
    • As taxas de juros exercidas excluem praticamente todos os projetos de investimentos das empresas à possibilidade de se financiarem no mercado. Ao custo mínimo em torno de 15%, obriga um retorno em 5 anos do capital aplicado, o que não é usual.
    • Essa situação remete as empresas para as agencias de financiamento Estatal e aos juros subsidiados, impactando a política fiscal.
    • Esse conjunto recessivo somado ao já usual descontrole fiscal brasileiro, se confirmado na linha política propalada de gastos públicos em consumo, deve gerar uma decrescente disponibilidade de recursos para o financiamento das empresas, do governo em sua conta corrente e do sistema financeiro (queda de arrecadação).
    • O balanço de pagamentos torna-se efetivamente deficitário. A fuga de capitais tende a virar realidade e o medo cambial se instaura.
    • É recessão e Inflação.

     
    A alternativa é:

     
    • Austeridade fiscal, na proporcionalidade desta, uma liberação monetária.
    • Maior liberdade cambial e de tarifas no comércio internacional, com aumento de intercâmbio, apostando na eficiência concorrencial (expansão de fronteiras).
    • Forte incentivo ao diferimento de renda, através de uma maior securitização da poupança para saúde, benefícios previdenciários, habitação, educação etc., formando uma forte estrutura de poupança interna.
    • Incentivo a distribuição do lucro das empresas e a capitalização destas pelos investidores.
    • Um amplo programa de privatização e concessões de serviços públicos principalmente de infra-estrutura.
    • Maior liberdade nas relações de trabalho promovendo-se a interação maior empregado-empresa.
    • Responsabilidade efetiva nos contratos comerciais, com a efetivação do processo de cobrança.
    • Maior distribuição de atividade do sistema financeiro, com controles efetivos, onde os bancos seriam somente bancos, da mesma forma bancos de investimentos, corretoras, distribuidoras, seguradoras etc.
    • Controles efetivos sobre práticas não equitativas, evitando monopólios oligopólios etc.
    • Efetivo instrumento de eficiência reguladora e promotora das agencias, não exclusivamente repressivo.

     
A partir destas avaliações, é fundamental que se ponderem as formas que supram as necessidades de capacitar instrumentos para o desenvolvimento de equações financeiras diferenciadas para viabilizar negócios e empreendimentos.
Uma forma usual, sempre referenciada, mas com pouca utilização é o instrumento do "Project Finance" que ressurge, como sempre nestas situações, como o elemento milagroso e salvador, antes desprezado quando da abundancia de recursos e dos derivativos milagrosos, agora se torna o instrumento fundamental.

 

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